quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O problema da Portugalidade


Eu, leitora, me confesso: raros são os livros que leio de autores portugueses. Dos cerca de 50 a 70 livros que leio anualmente, possivelmente não leio 10 de autores nacionais /lusófonos.
O que faz com que isto aconteça? Pela minha parte, tem um pouco que ver com as leituras obrigatórias na escola e com a pouca divulgação que a maioria dos autores portugueses têm.

As leituras obrigatórias fizeram com que associasse os autores portugueses a sentimentos de obrigação, de chatice e aborrecimento mortais. Gostei de Camilo Castelo Branco por exemplo, mas foi caso único. O resto, completei, mas sem senso nenhum de prazer.
A segunda razão para mim, é a mais relevante, pois à parte de uma meia dúzia  - contada pelos dedos - de autores que, de cada vez que editam um livro, é louvores e publicidade por tudo quanto é sitio, os outros nadam num mar de ignomínia. À parte de um curto espaço de tempo logo a seguir à publicação do livro, raramente são lidos, falados ou recomendados. Parece que caíram da face da terra, para não mais serem encontrados. São aqueles que normalmente têm que ter um emprego que lhes pague as contas, e que escrevem por amor à camisola, pois de outra maneira, não escreveriam.
Enquanto que há uns quantos - com mais ou menos mérito, mas isso é discutível - em que se cria uma expectativa quanto à saída de um novo livro, em que os livros são lidos e repassados não sei quantas vezes, outros há em que simplesmente caem no esquecimento. E isso não me parece justo, pois num mercado editorial pequeno como o nosso, não se percebe como é que há autores que têm muita publicidade e outros que passam "debaixo" do radar. É um assunto em que também que as editoras dever-se-iam debruçar, pois afinal são elas que os representam e se não fizerem o seu trabalho em condições, vai-se refletir nas vendas (ou mais, na falta delas).

Quero começar a ler mais autores portugueses, mas fora desse circulo dourado, porque tenho ideia que há muito bom livro para ser lido, só que não é tão conhecido ou popular.
 E vocês? Qual é a vossa opinião? E, já agora, sugestões para este meu propósito?

Kisses da vossa geek

9 comentários:

  1. A questão da publicidade não é só cá em Portugal, se reparares bem nos Estados Unidos todos os meses são publicadas dezenas de livros e o marketing que se faz nuns é muito maior que noutros e isso depende de muitos factores, do budget editorial, se o autor prefere cortar uma parte das royalties iniciais para o plano de marketing, se é um autor premiado claro que vão apostar muito mais nele, como disse depende de muitos factores... Não é ao acaso que livros que até podem nem ter mérito nenhum (tipo as 50 sombras) são um fenómeno internacional, porque apostam imensa publicidade nesse livro ainda antes sequer de estar à venda!
    Há que perceber é que o mercado editorial, seja em Portugal ou não (mas em Portugal é muito mais visível) tem muita mais oferta do que procura e os livros com mais publicidade também têm um destaque maior nas vendas, permitindo a edição de outros livros que possivelmente não serão uma aposta tão forte, mas para as editoras o que importa é não parar de publicar e ter a certeza que as contas estão balançadas... é com grandes fenómenos que eles conseguem investir em livros que não irão vender tanto e que passarão despercebidos à maioria dos leitores (não querendo isso dizer que sejam maus).
    Eu também não tenho lido tantos autores portugueses quanto queria, mas espero começar a investir mais nisso! :)
    Gostei deste post e espero ter "ajudado" um bocado a perceber :P É um meio muito mais confuso do que parece porque nem sempre o vemos como um negócio...

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    1. Rita, eu tenho noção que escrevi este post enquanto leiga que sou no assunto, por isso agradeço teres vindo dar umas luzes de como funciona o mercado editorial, que é um mundo em si próprio, e cujas "regras" não são percetíveis ao público.
      Então, já fiquei a perceber que ao investirem mais nos nomes maiores, no fundo também se estão a financiar para as poucas vendas dos mais desconhecidos. Faz sentido, mas parece um pouco injusto, não é? É claro que é um negócio, as editoras têm trabalhos para manter e contas para pagar, mas se eu fosse um desses autores, ia-me sentir um pouco injustiçado e meio frustrado.
      Também penso que, em termos de procura, o público acaba por ter maior apetência para os nomes mais sonantes, pois são esses que têm mais publicidade e que se fixam na memória de quem vai ler/comprar. Mas isso já tem que ver com os leitores em si e aí só uma revolução de costumes é que pode fazer alguma coisa....
      Obrigada e beijinhos

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  2. Txi...este tema é tão tão complexo que não se consegue debater numa simples troca de posts. Por um lado tens razão, no que diz respeito às escolhas que são feitas (ainda são?) para lermos na escola, que nem sempre são as mais interessantes no ponto de vista dos alunos. Por outro lado, entendo que tenham de ser feitas. Se isso provoca um estigma e preconceito em relação aos autores portugueses? Sem dúvida. Mas isso serve para justificar que não se pegue nos autores mais clássicos...e os outros? Os contemporâneos? Por que não se lêem livros deles? Em parte há a questão abordada pela Rita, do negócio dos livros...mas não será só isso. Há tantas coisas erradas no negócio dos livros em Portugal...tantas. E os autores portugueses publicados pelas grandes editoras, têm qualidade ou são só um produto de marketing? Queria escrever sobre isto mas não consigo ordenar as ideias para escrever sobre toda esta questão. É demasiado confuso.

    Quanto à questão de ler autores portugueses, eu sou completamente a favor de se começar pelos mais clássicos até para se entender os mais novos. Eu aconselho sempre o Vergílio Ferreira e o António Lobo Antunes. "Ah...eu li a Aparição e detestei". Pois, mas o Vergílio Ferreira não é só isso, essa é a fase mais existencialista dele...e os últimos livros que ele escreveu são maravilhosos. Já leste algum? Em nome da terra, Na tua face, Para sempre, Até ao fim...são maravilhosos. Se não leste, tens de ler...experimenta. No António Lobo Antunes gosto mais dos primeiros. E mulheres? Mulheres é que li muito menos...tirando a Sophia, nunca li Agustina Bessa-Luís, nem a Maria Velho da Costa, nem a Lídia Jorge. Li algumas poetisas, isso sim...mas não sou apreciadora, pelo menos da Florela Espanca. Por acaso ando a ler um livro de uma autora portuguesa, a Sandra Carvalho...mas reza o mundo que é uma colagem à Juliet Marillier. Achas que falta qualidade e originalidade aos nossos autores? Quanto aos lusófonos, já li algumas coisas...africanos, principalmente...mas não sinto o chamamento de África nem daqueles universos.

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    1. Podes crer - pano para mangas!
      Penso eu - os currículos escolares já poderiam ter sido um pouco renovados e talvez deixarem, por exemplo, um livro a ser lido ao critério do aluno, com algumas regras lógico - mas deixar algum espaço para a própria decisão do aluno. Mas sim, os clássicos portugueses devem figurar sempre, mas talvez com uma maior rotação das obras, para não ser ano após ano sempre os mesmos livros dos mesmos autores.
      Quanto à questão da qualidade dos nossos autores, penso que como em tudo há bom, mau e péssimo. Não escolhe nacionalidade nem marketing. O que penso que há é um certo grau de "carneirismo" na maioria dos leitores, porque se influenciam pela publicidade e acabam por não explorar um autor menos (ou nada) conhecido. A historia do GR é muito bom, mas presentemente há pessoas que só se guiam pelas pontuações que lá aparecem, no momento de comprar/ler. E quem dá essas pontuações? Somos todos diferentes: aquilo que eu adoro tu podes detestar e vice-versa.

      Nunca li Vergílio Ferreira ( o meu currículo não previa isso heheeh) nem os outros, mas vou ter em linha de conta as tuas recomendações. Os autores portugueses têm qualidade. Originalidade...já ninguém tem! Porque se vires, os temas - a não ser que seja um livro de fantasia ou uma distopia - são sempre os mesmos. Agora, o sucesso do livro passa pela escrita e pelo modo como esses assuntos são tratados. Aí é que reside a qualidade do autor e que nós temos, tal como os autores de outros países.
      Não gosto quando comparam autores portugueses a outros - acho que cada um tem o seu lugar. Possivelmente se leres a Sandra Carvalho primeiro que a Marillier, vais dizer que é uma cópia...isso é subjetivo. Se gostas, lês e não pensas mais nisso.
      Lusófonos também ainda não li...nem a estreia, sequer.

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  3. Percebo o problema e partilho um bocado - até 2015, quando comecei a virar-me mais para portugueses e lusófonos, que também negligenciava muito, pelos mesmos motivos escolares. Lusófonos: adoro Jorge Amado, adoro Mia Couto.

    Dos portugueses, recomendo muito a Maria Judite de Carvalho! Há muito pouco dela à venda, mas o que li adorei. Tenho esta tag: http://barbarareviewsbooks.blogspot.pt/search/label/portuguese caso queiras ver alguns que tenho lido nos últimos anos :)

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    1. Por me aperceber que é um problema transversal, é que decidi escrever este post. E quero começar ler mais portugueses e lusófonos sim e acabar com o "preconceito" de que só o que vem de fora é que é bom.
      Obrigada pela recomendação e pelo link!

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    2. De nada, ficarei atenta para ver que outros achados encontras e partilhas :D percebo mesmo perfeitamente, e sinto-me um pouco "envergonhada" sempre porque conheço muito melhor a literatura canónica anglófona que a nossa... mas pouco e pouco hei de o rectificar, havemos as duas de conhecer autores e livros que valham a pena :)

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    3. Obrigada Bárbara pelo voto de confiança. Já pus em marcha algo...mas ainda não divulguei. Fica atenta ao canal/blog que entretanto está aí.
      Eu também conheço melhor determinados autores ingleses do que os nossos. Não acho que nos devamos sentir envergonhadas - foram escolhas. Tal como agora escolhemos e queremos ir também noutra direção, mas não quer dizer que deixe de ler os autores que sempre gostei. Apenas vou adicionar mais uns,portugueses, que de certeza irei encontrar e gostar.

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    4. Estarei atenta, sem dúvida :) sim, foram escolhas, como agora escolhemos alargar horizontes! Haverá decerto autores de qualidade, é procurar!

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