sábado, 27 de maio de 2017

Os novos fenómenos de escrita

Como sou nova nestas andanças de blogues e páginas literárias, há umas semanas dei comigo, numa cena mais ou menos familiar a todos nós: o mindless scroll pelo feed do Facebook. E, no clicar de um link de um amigo de um amigo de um amigo (ad aeternum), reparei num fenómeno, tipo corrente subterrânea, que não conhecia.
E esse fenómeno é páginas de escrita, que mais tarde viram livros.

Como se começa? Simples. Começa-se por ter uma página pessoal, onde vai fazendo uns posts, as pessoas começam a seguir  em massa, com isso veêm muitos "gostos" e em última análise, há uma editora que se dispõe a pôr todos aqueles escritos ( e outros), num livro físico e a vender. Foi isto que retirei desta minha pesquisa.
Não critico nada nem ninguém , porque ao fim e ao cabo - quem sou eu para criticar? Tudo acaba por ser uma expressão artística e quem gosta, gosta;quem não gosta, não lê.

Apenas me chamou a atenção o processo para chegar até à publicação do livro. Todos temos na ideia o cliché do escritor enfiado num escritório, ou num sótão bafiento, sozinho, a criar, escrever e reescrever, a levar muitos "nãos" até ser, finalmente editado, e, quando isso acontece, os primeiros livros têm normalmente vendas modestas, até conseguir ter um público fiel.
Na era das redes sociais, este paradigma inverteu-se: o escritor (ou futuro escritor) já parte para a editora com uma base de fãs que não é de desprezar, pois já vi livros com as pré-vendas esgotadas. Pode-se dizer que o "cavalo" em que a editora aposta já é ganhador, pois (quase) toda a gente que segue essa página, irá comprar o livro físico. Não há grandes riscos aí - todos ganham: o autor, porque já tem um público fiel; a editora, que consegue fazer um cálculo aproximado do que irá vender e o público, porque pode ter o livro físico.
Serão estes os "novos" autores? Estou a pensar numa escala mundial....será esta a nova maneira de cativar os leitores e ter a certeza que os livros vendem?

Kisses da vossa Geek

8 comentários:

  1. Já me tinha apercebido mais ou menos desse fenómeno - não a 100%, mas no sentido de bloggers que publicam livros sobre generalidades e depois vendem imenso porque têm uma fanbase já construída, ou então o fenómeno da Rupi Kaur.
    Não sei se gosto da ideia - verdade seja dita, não sigo particularmente blogs. Li o livro da Helena Magalhães do The Styland (blog que leio porque vou lendo o que ela tem a dizer sobre livros) e... achei engraçado, nada de mais, acho-a um pouco ofensiva. Mas claro que vendeu imensos exemplares, porque a fanbase dela já era extensa.

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    1. Quis focar mais este fenómeno, movimento em específico porque esse que referes já estamos mais ou menos habituados.
      Penso que enquanto movimento criativo é válido, tal como qualquer outra corrente.
      A pergunta que se impõe ou a reflexão a fazer, quer pelos leitores quer pelo mundo editorial é esta - poderão coexistir os dois paradigmas? Ou será que é uma evolução natural, que irá " apagar" o escritor estereotipado, ficando apenas aquele que, à partida tem uma fanbase sólida?
      Beijinhos e obrigada

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    2. Não sei. Espero que possam coexistir (ou que o movimento, como dizes, tenha prazo de validade), até porque a maioria dos conteúdos de páginas de "escrita" me passa completamente ao lado e é uma escrita que em si me parece básica e estereotipada também. Talvez por nunca ter visto muito disso, mas tudo o que vi não me agradou...

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    3. Penso que poderá estar para ficar e o que vemos, neste momento, seja o inicio. E como todos os inícios, a qualidade é um bocadinho duvidosa - ou, pelo menos, o que vou lendo não é ao meu gosto. Penso que, com o passar do tempo e a banalização (habituação), a qualidade possa vir a aumentar. Mas penso genuinamente que veio para ficar - possivelmente em coexistência com a forma "tradicional" de editar um livro.

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  2. Sim, é um fenómeno transversal ao blogues. Acima de tudo para a editora interessa fazer dinheiro. Para eles não lhe interessa se é bom ou mau. Fazem as contas ao numero de comentários e de fãs e eis a f´
    fórmula mágica.
    Ainda assim existe algumas excepções...
    ||||||

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    1. Sim - a parte das editoras está bem à vista: podem logo começar a fazer contas ao dinheiro que vão ganhar. E no fundo, é tudo o que lhes interessa.
      Por agora, o que vou vendo é tudo muito na mesma veia - mas estou em crer que, daqui por uns tempos possamos assistir a um aumento de diversidade e qualidade da "escrita" proposta.

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  3. Olá!
    São as consequências da nova era digital, da evolução.
    Acho que, hoje em dia, há público e espaço para tudo e para todos. Mas também acho que é bom sabermos seleccionar aquilo que gostamos e que achamos que tem "qualidade". O problema deste boom digital é que a enormidade de conteúdo que hoje existe. Tanto que facilmente nos perdemos e deixamos escapar o essencial ou aquilo que gostamos.
    Enfim...tema que dava uma tese :)
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Isaura, essa é uma perspetiva que não abordei mas que é pertinente: o bombardeio via digital a que estamos expostos e que nos fará perder, inevitavelmente escritos de qualidade perdidos no " mar" de milhentas opções.
      Também acho que há lugar para tudo e para todos e que este movimento ainda está muito no inicio, não se sabendo ainda como vai evoluir.
      Beijinhos e boas leituras

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