Opinião
No seu Mundo
Jacob Hunter é um adolescente de 18 anos com Síndrome de Asperger, ou numa classificação mais recente, com perturbação do espectro do autismo. Ele tem toda a sua vida planeada desde o momento em que se levanta até ao momento em que se deita. Para quem não está familiarizado com esta problemática, as rotinas são o que dão segurança a pessoas portadoras deste distúrbio.
Uma das muitas terapias que ele tem consiste em lhe ensinarem a interagir socialmente, ensinando-lhe aquilo que ele não tem naturalmente: capacidade de perceber as nuances de linguagem, os duplos sentidos do discurso que todos nós utilizamos.
A terapeuta encarregada disso é Jessica, que ainda é uma estudante universitária, mas que pretende vir a trabalhar com crianças e jovens com a mesma perturbação que Jacob e aproveitou para ganhar experiência e algum dinheiro, além de o trabalho qu ela desenvolve com o Jacob ir ser o tema da sua tese de final de curso.
O problema chega quando ela aparece morta.
De um crime quase insolúvel, levantam-se suspeitas de que Jacob, num dos seus acessos em que perde o controlo, a possa ter morto. As evidências são circunstanciais, mas como ele é portador deste síndrome e o mesmo confere algumas características especiais tais como falta de empatia, falta de contacto visual e algumas obsessões estranhas garantem-lhe um lugar no rol de suspeitos e até - ser o único suspeito. A sua mãe, que sempre o acompanhou desde que o pai saiu de casa por não conseguir lidar com esta particularidade do filho, acredita na inocência dele, mas ao mesmo tempo, como fazer a sociedade perceber que pelo facto de o seu filho se comportar de modo um pouco diferente, não quer dizer que tenha morto a sua terapeuta, pela qual aliás ele nutria um forte sentimento de amizade.
E o livro parte daqui.
Foi a minha estreia com esta autora e com um assunto que me diz tanto a nível pessoal.
Tudo o que li - embora um pouco datado, pois nos anos recentes o termo Síndrome de Asperger deixou de ser utilizado - está muito bem pesquisado e foi tratado com respeito por todos os portadores de tal distúrbio. Vê-se que houve um bom trabalho de pesquisa e de fala com vários pacientes deste espectro, o que deu para ter uma visão global quer do que é ser autista e do que é ser mãe ou irmão de um autista. São experiências de grande impacto a todos os níveis, quer familiar, quer social, quer escolar.
Todas as dificuldades da mãe do Jacob, eu senti-as como minhas. Todas as dificuldades do Jacob eu consegui entender. Gostei imenso do trabalho feito.
Aqui o que se põe em causa e em estudo é: numa altura em que cada vez mais este tipo de perturbações aparecem, como é que a sociedade e mais concretamente o sistema judicial se deve comportar com estas pessoas? Será que está apto a aplicar justiça mas ao mesmo tempo respeitando as diferenças inerentes? É que uma pessoa com Asperger não faz contacto visual com os outros, mas não quer dizer que seja culpado. Pode não responder de forma abrangente a uma pergunta e ter que ser contextualizado - para se ter uma resposta perceptível é necessário jogar ás 20 perguntas, porque eles são verdadeiros, mas são literais e só respondem ao cerne da pergunta - não elaboram.
Do que vi aqui, o sistema judicial americano - ou para um caso específico, o português - não estão preparados para julgar alguém com estas particularidades. No livro vi falta de respeito, ignorância e até um certo atropelar de direitos humanos com base na premissa de que "ele estaria a fingir".
E isso é algo que as instâncias superiores judiciais se devem debruçar, para que não haja inocentes condenados, simplesmente porque não se comportam como 99,9% do resto da população.
Fiquei extremamente agradada com a autora e irei ler mais dela nos próximos meses.
Kisses da vossa Geek
Ainda não li nada da Jodi P. apesar de já me terem recomendado várias vezes. Acho que ia gostar deste livro.. um pouquinho de mistério com a morte da terapeuta e as questões levantadas quando temos uma pessoa com este tipo de perturbações.. vou anotar a sugestão que, como sempre, é das melhores, minha geek :) obrigada por a partilhares!
ResponderEliminar* Blog mary red hair *
*Canal mary red hair*
Olá Mary
EliminarRealmente também nunca tinha lido nada da Jodi porque achava - erradamente - pelas capas que eram romances cheios de mimimi. Mas não é nada disso - uma história bem escrita a bem contada. Lê que não te arrependes e vais ficar a pensar, tal como eu fiquei.
Obrigada por passares aqui prlo cantinho
Beijinhos
Eu gostei muito deste livro também e a nossa opinião é muito parecida!
ResponderEliminarGostei muito de ler as coisas que escreveste.
Excelente crítica!
Obrigada Dora! Sabes que é um assunto querido para mim e o facto de ter sido bem explorado agradou-me imenso.
EliminarSim nós todas tivemos a mesma opinião.
Desta autora ainda só li Frágil- fala de uma menina com Osteogénese Imperfeita ou, mais comummente, Doença dos Ossos de Vidro.
ResponderEliminarAo que parece os livros dela são todos dentro deste género :)
Beijinhos*
http://menteliteraria.blogs.sapo.pt/
Olá Daniela
EliminarA Dora leu um dela que tratava de pedofilia, mas sim - pelos vistos o forte dela são os casos dificeis. Desde que bem pesquisados vai ter aqui uma fã.
Beijinhos e obrigada
Olá!!
ResponderEliminarQue bom que correu bem esta primeira estreia!! Adorei a nossa leitura.
Faço minhas as tuas palavras. Subscrevo totalmente (ainda tenho que publicar opinião).
Gostei da tua opinião sincera :)
Beijinhos e boas leituras
Olá Isaura
EliminarNós "lemos" bem juntas passo a expressão. Estamos sempre a trocar impressões e isso é bom.
No final ficámos todas com a mesma opinião creio eu.
Beijinhos e até á próxima
Vocês a três deixaram-me mesmo muito curiosa com o livro! Tenho que ver se o leio!
ResponderEliminarBeijinhos
Lê porque está bem escrito e bem pesquisado, com profundidade mas sem lamechice.
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