Dois por Um
Gabrielle Chanel
Livro Mademoiselle Chanel de C. W. Gortner
e
Filme "Coco Avant Chanel"
Decidi juntar estas duas vertentes da vida de Gabrielle Chanel, não porque o filme tenha sido feito a partir do livro ou vice-versa; apenas que o filme, que vi há anos atrás, e com certeza alguns anos antes de o livro ser escrito, retrata fielmente a vida e obra de uma das mulheres mais influentes do século XX.
Para quem desconhece por completo as origens desta grande mulher, pode-se dizer que ele teve uma infância conturbada, onde a sua mãe, solteira e com 5 filhos para criar, era deixada sozinha pelo pai por longos períodos de tempo, pois o ele era vendedor e andava de cidade em cidade.
A mãe morreu quando Gabrielle tinha 12 anos e o pai não se quis ocupar de nenhum dos filhos: as meninas foram para o convento de Aubazine, enquanto que os rapazes ficaram a trabalhar numa quinta.
Possivelmente, esta sensação de abandono e pobreza extrema fizeram com que Gabrielle inventasse uma vida para ela, em que não estaria patente o desprezo a que ela e a sua irmã Júlia, ambas internadas nas freiras, foram votadas.
"A minha vida não me agradava, por isso resolvi criá-la"
Esta é a frase de abertura de um livro extraordinário sobre esta mulher avant gard, esta mulher que nasceu antes do tempo em que poderiam entender a sua mente e as suas atitudes.
Em seguida a sair de Aubazine, Gabrielle e a sua irmã ainda ficam mais 2 anos em regime de pensionistas, num outro mosteiro para meninas, em Moulins, perto de alguns familiares da parte do seu pai. Após esses 2 anos, e já uma reputada costureira e bordadeira, ela e a sua tia mais nova Adrienne vão trabalhar para uma maison, especializada em enxovais de noivas. Mas o pagamento é tão pouco que Gabrielle começa a cantar no café La Rotonde, e a canção que mais a celebrizou foi a que lhe deu o seu diminutivo - Coco - por causa da canção "Qui qu´a vu Coco dans l´Trocadéro". O café e as suas aparições foram onde ela conseguiu seduzir um jovem socialite chamado Étienne Balsan, que regressava da guerra para o château da família, em Compiégne.
Ela tornou-se sua amante e ele deu-lhe acesso á alta roda francesa e deu-lhe ainda a conhecer o grande amor da sua vida: Arthur Capel ou Boy para os amigos, um milionário inglês que foi o primeiro a apostar no seu primeiro negócio - uma loja de chapéus.
Gabrielle amava perdidamente este homem e, apesar da grande mágoa de ele se casar com uma daquelas senhoras "com 3 nomes" (designando as senhoras da aristocracia), eles mantiveram uma relação intermitente, que durou até à morte dele, num acidente de carro.
Por esta altura, Coco já era bastante conhecida em Paris e das mais famosas revistas de moda francesas, portanto ela decidiu expandir o seu negócio para a roupa, primeiro desportiva e de praia.
A nível pessoal, nunca foi casada nem nunca tal entrou nos seus planos, mais uma vez, pelo trauma de não conseguir confiar em ninguém a 100%, sem ser nela própria.
Como última curiosidade, ela foi a única estilista francesa que fechou o seu atelier, ou seja não produzia coleções, durante a ocupação alemã de França, o que lhe valeu algumas suspeitas por parte dos alemães do Reich.
A nível do livro em si, já não é a primeira experiência com este autor e considero-o mesmo um dos melhores em romance histórico, atualmente. A escrita, o estilo de narrativa em primeira pessoa e o ritmo que ele imprimiu, contribuíram para uma leitura viciante e frenética, pois há muitos aspetos da vida desta grande senhora que me eram completamente desconhecidos e que, aqui, ganharam vida e sentimento.
Tem descrições lindas de Paris e das suas festas nos loucos anos 20, da cena intelectual e artística - ela era amiga de Picasso, Sergei Diaghilev, Jean Cocteau, entre outros. Fala também da sua incursão nas drogas, sempre bastante controlada e dos seus amantes - alguns.
O tom da vida desta mulher, se quisesse ser descrito em uma única palavra será moderação. Menos no trabalho, que era o seu centro de tudo. Mas, em tudo o resto, ela sabia ser moderada e ponderada, fria e calculista. Nunca deu um passo maior que a perna e isso fez com que contruísse um império, ainda hoje reconhecível.
O filme retrata exatamente o que li. Foram muitas as vezes que li o livro e revia na minha mente cenas especificas do filme. A fotografia está linda, a atuação da Audrey Tautou está no ponto e dá vontade de voltar àqueles anos loucos e viver um pouco aquilo que ela viveu, para perceber em que matéria ela foi moldada.
Em termos de biopic, é um dos melhores que já vi. Não sai do tom, não glorifica, mas também não arrasa com o seu sujeito principal, portanto recomendo vivamente para quem queira ir a Paris, ir ao centro de um turbilhão de criatividade e perceber como funciona (ainda) o mundo da moda. Porque, aí, nada mudou desde essa altura...
Kisses da vossa Geek
Olá!
ResponderEliminarJá tenho o filme para ver. Falta-me só o livro :)
Espero consegui "o pleno". Mas gostaria de começar pelo livro. Mais "sumo".
Beijinhos e boas leituras
Olá Isaura
ResponderEliminarFoi por casualidade que vi primeiro o filme, mas neste caso não penso que o filme tenha menos "sumo" que o livro. Acho-os bastante similares, mas depois quero o teu feedback nessa matéria.
Beijinhos e boas leituras
Ainda não vi este filme mas já adicionei à minha lista ;) Bjs
ResponderEliminarVê que é muito "francês", se é que entendes o que quero dizer. Têm uma cadência própria. Mas, se estamos a falar de Coco Chanel, tem que ter esta essência, não é?
EliminarBeijinhos
Lá estás tu a aumentar a minha lista XD
ResponderEliminarAgora quero ler o livro (que por acaso há aqui na biblioteca) e ver o filme!
Beijinhos
Então não podes ser só tu a me aumentar a minha não é? É justo! Lê que vais gostar.
ResponderEliminarBeijinhos
Este comentário foi removido pelo autor.
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