domingo, 19 de fevereiro de 2017

Vamos Geekar com Séries #4

Orgulho e Preconceito

Meus geeks, no inico desta rúbrica disse que tinha uma série que é a minha nº1. E é esta.
Desde que vi, no distante ano de 1995, na BBC, que na altura ainda fazia parte dos canais disponibilizados na grelha da Cabovisão, que se tem mantido nesse topo, contra tudo e contra todos, leia-se contra todas as séries que entretanto vi.
Já assisti certamente mais de 10 vezes back to back e continuo a achar uma produção de tal qualidade, que nem o facto de ter mais de 20 anos lhe retira qualquer grama dessa "qualidade BBC", expressão que utilizo para designar a qualidade de interpretações, cenário, diálogos, guarda-roupa.

É uma das adaptações mais fieis ao livro homónimo de Jane Austen, com toda a fleuma british e com toda a crítica de sociedade inerente, que a autora nos habituou. Neste caso, como noutros, critica-se a hipocrísia, os casamentos de conveniência, a vida no campo, as pequenas rivalidades entre famílias, a arrogância de nobres e a ainda maior arrogância dos novos-ricos. Tudo é criticado e criticável.

Com filmagens em sítios esplendorosos e com uma guarda-roupa totalmente adaptado á época, com comportamentos também totalmente intrínsecos ao período retratado Orgulho e Preconceito é um sonho de ver.

Lizzie Bennet é a mais inteligente e reacionária de 5 irmãs. Temos a doce Jane, a irmã do meio Mary, pretensa intelectual e as manas mais novas Kitty e Lydia, cabecinhas de vento que apenas pensam em bailes, namoricos e vestidos.


Os pais, Mr e Mrs Bennet são o retrato vivo de um casamento de conveniência: ela, que era uma beldade na sua juventude, revelou-se uma pessoa oca e fútil, muito desprezada e gozada pelo sarcástico Mr Bennet, que sempre que pode está na sua biblioteca a ler e a fazer as suas contas, longe do rebuliço em que a sua esposa normalmente mergulha a casa.

À Mrs Bennett interessa apenas uma coisa: casar as suas filhas o melhor possível e nesse caso, ela é uma mãe infatigável, mas que dentro da sua loucura e ás vezes desbocamento, defende as filhas até á última. Só quer o melhor para elas, embora isso a nós, agora, nos pareça exagerado e ridículo e até ligeiramente anti-feminista.

Tudo começa com a chegada de novos vizinhos - ricos - á grande casa de Netherfield e do facto de Mr. Bingley, o novo vizinho em perspetiva, ser solteiro, sendo portanto um chamariz para todas as meninas solteiras da zona.

Vem acompanhado das suas irmãs, Mrs Hurst, casada com um fleumático Mr. Hurst, de Caroline ainda solteira e do seu grande amigo de infância, o arrogante e anti-social Mr. Darcy, cuja fortuna pessoal é bem maior que a dos Bingleys.

As ocasiões sociais da altura são os bailes, quer nas assembleias, embora não muito prestigiantes, pois qualquer um que pudesse pagar a entrada podia ir dançar - ou seja o Lord podia dançar com a filha do talhante.

Os bailes que eram mais prestigiantes eram os dados em casa de quem os pudesse e quisesse organizar e para o caso, Mr. Bingley organiza um em honra de Jane, por quem se apaixonou à primeira vista, no baile da assembleia.

Mas há forças que querem contrariar o que se adivinha que pode acontecer, nomeadamente da parte das irmãs, que querem que o irmão faça um casamento vantajoso do ponto de vista financeiro e para isso, Jane Bennet não é um bom partido. Além de não ter praticamente fortuna pessoal, tem uma mãe tão inconveniente que a põe sempre em sarilhos.

Aliás, segundo as leis praticadas na altura, uma vez que os Bennets apenas tinham filhas, quando o pai morresse, a propriedade e rendas deles passariam para o herdeiro masculino mais próximo, o subserviente Mr. Collins, pároco determinado a não incorrer na ira da sua patrona,  Lady Catherine de Burgh.


As interpretações são excelentes e pelo que li, foi a estreia de Colin Firth no écran, ele que era apenas ator de teatro até esta altura. E esteve quase para não aceitar o papel, pois não queria ser conhecido "apenas" com Fitzwilliam Darcy. Mas sem dúvida que este papel lhe valeu a sua ascensão a Hollywood e consequente reconhecimento.
Jenniffer Ehle é, para mim, a personificação da Lizzie Bennet que aparece no livro. Com uma beleza fora do convencional para a época, mas bonita ainda assim. De língua afiadíssima e de julgamento rápido, que quase a desgraçou com o Mr. Whickham, de falinhas mansas e muito inteligente a manobrar a opinião dos outros.

Com um ritmo rápido e alucinante - está sempre a acontecer novidades a todos os momentos - estes 6 episódios exploram bem todo o universo que Jane Austen tão bem conhecia e que descreveu em todos os seus livros. A fidalguia rural, que tinha a sua hierarquia própria, os podres e segredos de vilas pequenas, a invasão iminente de Napoleão, o jogo dos casamentos...enfim, toda uma galeria de personagens que representam estereótipos, observados pela autora no seu dia-a-dia, que ela passou para uma historia inesquecível e bem urdida e que, de romantismo tem muito pouco, a meu ver, ao contrário do que é sugerido. Tem muito mais a ver com racionalidade, jogos de aparências e de algum sentimento, mas não demasiado - afinal, são todos muito british!

Kisses da vossa Geek

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