quarta-feira, 23 de novembro de 2016




Annabel por Kathleen Winter




A história começa com a morte de Annabel.

Um bebé nasce numa pequena vila na Terra Nova chamada Lavrador, em 1968.
Esse bebé teve como parteira uma das amigas da mãe, chamada Thomasina.
É Thomasina que se apercebe que o bebé é hermafrodita, termo já caído em desuso, mas ainda utilizado no livro, possivelmente por ser o termo em voga na época em que a ação de passa. Neste momento a designação que se utiliza é de intersexual, ou seja uma pessoa que tem órgãos genitais dos dois géneros.

A partir deste nascimento inesperado, há que tomar decisões e com uma certa rapidez: qual é o sexo dominante no recém-nascido? Qual a decisão mais acertada? Como é que, num futuro não muito longínquo, esta criança vai sentir-se mais integrada na sociedade onde vive?

Vivendo num meio pequeno e marcadamente patriarcal, este é um assunto de extrema delicadeza e o pai do bebé, Treadway, queria muito um filho para lhe poder passar a sua profissão de caçador. A Medicina também concorda que o sexo dominante é masculino e assim nasce Wayne. Mas a sua mãe, Jacinta, pressente que perdeu uma filha.
A decisão é tomada, mas ao longo dos anos, Wayne sente sempre que há algo de diferente nele

O miúdo sabia que o pai esperava dele uma atitude severa e prática, por isso, aprendeu a mostrar tal atitude.

Sendo esta uma situação tão especial, é lógico que acarrete tensões no casamento de Treadway e Jacinta

Mas havia uma coisa que sempre tinham feito, e não deixaram de fazer, porque parar seria reconhecer que o casamento tinha falhado, e não estavam preparados para o reconhecer.

Wayne cresce e percebe que ao longo de toda a sua vida houve segredos, informações básicas sobre ele que lhe foram sonegadas

A solidão repartida por cada um de nós em diferentes quantidades, fosse escondida ou diluída, era assumida.

O livro vai descrever todo o percurso de vida do Wayne e das pessoas que o rodeiam.
Adorei a Thomazina, que reconstruiu-se após uma tragédia brutal.
Adorei a mãe do Wayne porque é uma mulher forte e de convicções, e que sempre quis o mesmo que todas as mães querem para os seus filhos: que eles sejam felizes, amados e respeitados por quem eles são e não por uma projeção que alguém lhes quis impor.
O Treadway, no inicio odioso, evoluiu imenso e surpreendeu-me pela positiva.

Todo o livro aborda temas fortes como homofobia, preconceito, solidão, descriminação e bullying  conjugados com uma vida difícil de uma cidade que se pode chamar "de fronteira", e, por isso mesmo, muito fechada em torno de si mesma. Ficamos a perceber e a ter uma quase experiência de viver na natureza, vivendo do que ela nos dá. A caracterização do espaço e tempo está muito bem feita, consegue-nos transportar para lá.

A escrita é maravilhosa, poética e ao mesmo tempo fluída. A autora surpreende-nos várias vezes com a humanidade dos seus personagens. São ricos de emoções e de sentimentos, que transparecem pela página. Muitas vezes me emocionei com o Wayne, um menino demasiado tempo perdido de si mesmo.

Kisses da vossa Geek

2 comentários:

  1. Uau.. pelo que escreveste, compro :) acho que vou adorar este livro! Bem escrito, história consistente e material bem construído.
    Pai Nataaaaal, se me estás a ouvir.. quero este também hehehe

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    1. Mary, lê porque é lindo! Trata acima de tudo de relações entre pais e filhos e nesta altura vai-te dizer muito.
      Beijinhos

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