domingo, 17 de dezembro de 2017

A culpa livrólica


Calma, que nada tem que ver com compras de livros e afins. 
O que estou a pensar é em culpa por não ler tudo. Não ler tudo o que temos nas estantes. Não conseguimos ler tantos livros quantos queríamos ler. Ter um "mau" mês/ano. Não acompanhar as novidades. Enfim, essas culpas todas.

Eu sou uma leitora. Não sei se compulsiva, mas leio entre 50 e 70 livros por ano, sem grandes esforços e sem me retirar da vida de todos os dias.  Segundo a famosa sondagem do Expresso, estou bem acima da média nacional. Vamos começar por aí.
Antes de acompanhar a comunidade do Booktube, já registava as minhas leituras no Goodreads - estou lá desde 2009, se não me engano. Não me lembro particularmente de números - até porque houve anos em que não "estive" lá - mas penso que se cifrava entre os 20/30 livros por ano. O que já considerava muito bom. Se tivesse um mês de ler 4 livros, já achava que estava no topo da parada!
Mas, como o ritmo de leitura é algo que vai melhorando quanto mais se lê, os meus números têm vindo a aumentar gradualmente.
Quando comecei a ver vídeos no Youtube, há cerca de 3 anos, e via resumos de leituras de mês com 8, 10 e mais livros entrei num pânico leve: então, mas porque é que não leio tanto? Devia ser capaz de ler mais? O que posso fazer para melhorar?
Cheguei à conclusão que este é o meu ritmo, que me forçar, apesar de querer muito ler centenas de livros ao mesmo tempo, pela curiosidade que me despertam, mas compreender que isso é humanamente impossível e mais - não conseguiria assimilar toda a informação, do modo como gosto de assimilar.

Passando para o espetro geral: todos os leitores têm imensa curiosidade para ler este, aquele e mais o outro livro. Mas quando vemos pessoas, em vídeo ou em blogue, que leram "este mundo e o outro" num mês, ficamos com sentimentos de frustração. Mais ainda, quando se tem um canal ou blogue literários - há a parte de produção de conteúdo que entra em jogo. Se não se ler em bom ritmo, não se faz conteúdo. Será? Há imensos assuntos a explorar, em termos de livros e literatura, que não dependem exclusivamente da tríade bookhaul/opinião/resumo de leituras do mês. Penso que há lugar para quem lê imenso e para quem lê menos, sem culpas e principalmente - sem pedir desculpa por isso. Embora, se formos a olhar aos canais estrangeiros, vê-se ali por vezes um sentimento de competição muito marcada, o que não é saudável.

Neste momento, anda a decorrer, principalmente nos canais americanos, a discussão sobre o leitor como fraude, que se foca neste tema especificamente.
Pessoas que chegam às leituras do mês com 10 livros e acham que são uma fraude, enquanto booktubers. A pressão para apresentar cada vez mais conteúdo, leva a autênticas crises de ansiedade, o que já provocou a retirada de alguns canais, porque para essas pessoas a leitura começou a parecer emprego e não diversão. Outro facto concorrente para este sentimento, é o facto de já haver alguns ganhos envolvidos e, se não fizerem os vídeos que dão mais visualizações, perdem dinheiro. Mesmo assim, é instrutivo acompanhar toda esta situação e retirar algo de útil.

E vocês, como encaram esta situação? E algo que vos afete? E, se afeta, como lidam com isso?

Kisses da vossa Geek


10 comentários:

  1. Eu acho que a fraude deve ser o número de livros que algumas pessoas dizem que lêem. =P A não ser que a tua profissão seja ler livros. xD Eu não sou booktuber mas não me sinto nada pressionada pelo que os outros lêem...claro que às vezes é frustrante querer ler tantos livros e não ter tempo nem conseguir. Cada um lê o que lê, quando quer, quando pode. Essa cena do dinheiro só mesmo nos EUA...acho que por cá a coisa não se dá, quanto muito é o stress com medo de perder parcerias. =P

    E mais, quantas vezes ouves alguém falar sobre um livro que gostou muito e te apetece logo le-lo? Muitas vezes. E depois quando lês...quantas vezes gostas tanto quanto a pessoa anterior? Muito poucas, diz-me a experiência...assim que há que racionalizar e viver sem pressões livrescas. Esta questão, para mim, nem se põe. =)

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    1. Sabes que para mim esta questão de "fraude" também não se poria. Acho que, como tu, cada um lê o que pode e consegue e a mais não é obrigado, a não ser que lhe paguem para ler livros. Mas pelo que vejo, na América é algo que preocupa vários booktubers. E acho que é uma não questão. Simples.
      Isso dos números que cada um lê....é melhor não entrarmos por aí, porque tenho algumas visões muito particulares. E sim - pelo stress de perder parcerias. Mas não quero ir por aí - todos temos o nosso ritmo e a nossa maneira particular de encaixar a leitura, no nosso dia a dia. E todos somos diferentes.

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  2. Revejo-me imenso neste teu post.
    Também acho impressionante como é que se consegue ler tanto como algumas pessoas anunciam. Exagerando, quase que parece a lista infindável de livros que o nosso actual presidente da república referia semanalmente no jornal das 8 de domingo.
    Certo é que cada um sabe de sim e da forma como programa o seu dia e os seus afazeres e de como ainda consegue incluir alguns hobbies como seja o caso da leitura.
    O importante, na minha opinião, é que sem stresses e sem quaisquer pressões, as leituras sejam prazerosas.

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    1. Sim - faz "espécie" como é que algumas pessoas leem tanto e com vidas atarefadas e outras não. Mas lá está - todos temos as nossas dinâmicas para encaixar os nossos hobbies, sendo um deles a leitura.
      O nosso PR dorme para aí 4 horas, segundo o que li num perfil deles, há muitos anos atrás - por isso, consome (ou consumia) muita dessa hora a ler. Mas mesmo assim, a montanha colossal de livros que ele trazia todas as semanas, e que aparentemente tinha lido, era qualquer coisa!
      As leituras, não sendo uma profissão, devem ser prazerosas e no ritmo e gosto de cada um, não podendo haver comparações.

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  3. Admito que tinha muitas 'desconfianças' quanto aos números que certas pessoas apresentavam. Afinal, desde sempre que sou conhecida por ser a pessoa que lê mais no meu círculo próximo, como é que de repente aparece tanta gente a ler o dobro do que eu? Posso dizer que era uma certa inveja que me preenchia. Uns meses depois decidi ser racional e olhar para mim. Eu não ando de transportes públicos nem aguento mais de 10 minutos a ler na cama sem me dar a soneira. Não levo livros para o trabalho para ler nas pausas. E pensando bem, é nesses espaços que a maioria das pessoas mais aproveita para ler! Nós não temos todos a mesma vida!! E isso tem toda a influência no que lemos! Se eu tivesse hábitos diferentes de leitura e uma rotina diferente, com certeza teria uma meta no Goodreads bem mais elevada. Mas não tenho, pronto. E agora já consigo viver bem com isso.
    Mas, também, não quero fazer da minha vida profissional algo relacionado com literatura, seja a blogosfera ou o booktube. Não vejo isso de maneira séria e, por isso, não ponho em mim as exigências que influenciadores grandes colocam em si próprios. Com razão? Talvez. É de esperar que alguém que faça disto a sua vida mantenha um certo nível. A quantidade de livros que um booktuber/blogger me apresenta é importante, claro, mas é o mais importante? Claro que não. Um gaj@ pode mostrar-me 30 livros por mês, mas se eu não gostar da personalidade del@ ou duvidar da qualidade das suas opiniões e do resto do conteúdo em geral, então adeus boa noite, vou para outra. A dificuldade aqui é uma dificuldade ja generalizada: conseguir criar a nossa identidade de acordo com as nossas capacidades e possiblidade, sem correr atrás da manada.


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    1. Ora tocaste num ponto importantíssimo: criar uma identidade própria, no canal ou blogue, sem correr atrás dos outros. E isso é o mais complicado de obter, principalmente se se entra neste "mundo" a pensar que se vai logo influenciar alguém. só porque apareceu. E criar uma identidade própria enquanto leitor é a mesma coisa.
      A parte dos grandes influenciadores será mesmo essa: números, quantos mais, melhor. Mas o conteúdo é muito importante. Se a pessoa basear o seu canal na tríade que descrevi, eu sigo se achar que as opiniões são sólidas e não "gostei porque sim". A pessoa tem que me conseguir passar o que achou do livro e dar uma ideia, sem parecer que está a fazer a composição da 1 ª classe. Isso é algo que detesto! Demonstra que além de não saber apresentar uma opinião, absorveu muito pouco do que o livro tinha para dizer e isso não me interessa nada.
      O ritmo de leitura é diferente e as dinâmicas familiares que nos permitem ter os nossos hobbies também são diferentes. Não podemos perder de vista isso e entrar em comparações que não vão beneficiar ninguém e só nos vão deixar chateados connosco próprios. Eu não leio nas pausas do trabalho mas se souber que vou para uma consulta médica, levo livro. Leio mais ao serão e pouco ao fim de semana. Cada um cria o seu próprio espaço para encaixar a leitura. E isso não deve ser stress para ninguém. Deve ser prazer, divertimento, informação, distração.

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  4. Hello!
    É uma questão que já me tinha colocado. Os números que algumas pessoas lêem. Mas quem sou eu para duvidar?! Só me preocupo com aquilo que leio.
    Antes do booktube e blogue não tinha essa preocupação. Nem utilizava o Goodreads e a sua meta. Agora de há alguns anos para cá sinto mais pressão. Mas é uma coisa pessoal. Quer ler mais e mais e mais. Mas não mais do que os outros. Isso a mim não me afecta. Mas queria ler sempre mais do que leio. Mas também sei que é uma coisa um pouco parva, porque senão tira o gozo de tudo isto. Ler para mim é um prazer. Portanto quero que assim continue a ser. Mas esta é questão que eu tenho que trabalhar comigo própria...devagar devagarinho :)
    Beijinho

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    1. Ai Isaura, que essa questão dos números...nem quis entrar por aí, por esse lado da questão.
      Este ano decidi não pôr meta do Goodreads, para ver se esse número me influenciava nas leituras. A conclusão? Nada! Mais ainda: li mais este ano.
      Percebo o que dies da pressão auto-imposta, porque queremos ler mais e mais e aquele que nos despertou a atenção agora, e mais o outro...por minha vontade, estaria a ler 10 livros ao mesmo tempo, mas isso não seria bom nem satisfatório para aquilo que eu pretendo retirar da leitura que é abstração, conhecimento, divertimento. Nós temos sempre a impressão que lemos pouco, para aquilo que a nossa cabeça pede, mas já me capacitei que lemos imenso. E a partir daí, qualquer outra noção de stress deve cair, porque nós não somos pagas para ler "a metro" e temos muito na nossa vida para atender.

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  5. Ah a grande questão.
    Sendo directa: estou-me a borrifar. Para as leituras dos outros e para o número de livros que leio.
    Eu sou uma mulher dos números e tenho sempre vontade de rir quando os querem usar para provar um ponto... é que os números podem ser usados a bel-prazer para provar aquilo que queremos.
    Se eu tivesse como objectivo ler 200 livros num ano aposto que conseguia. Escolhia livros pastilha-elástica (adoro esta expressão da Célia), romances da treta, policiais e em desespero de causa espetava lá com umas novelas gráficas e uns livros infantis. Easy, easy.
    Repetir-me-ei mil vezes: é mais importante a qualidade que a quantidade.
    Mesmo nos blogs/canais. Gosto imenso de ler e ver opiniões mas a verdade é que 80% das existentes na blogosfera/booktube nacional não me interessa nada, os livros repetem-se ou são YA, género que não me interessa (nada contra quem gosta), ou policiais/thrillers, género que prefiro ler sem saber nada (a maioria das opiniões tem spoilers mesmo que as pessoas tentem muito não os dar).
    Não ponho em causa, nem me incomoda a quantidade de livros que os outros lêem. Acho que há livros que mereciam um bocadinho mais de tempo, há livros que são como os vinhos, precisam respirar e depois exigem algum tempo de recuperação. Mas cada leitor lá sabe o que é importante para si e se quer/precisa ou não de tempo.

    As metas numéricas só me chateiam porque acho que impedem a evolução. A loucura de atingir aquele número de livro impede (às vezes) que se insista, que se procure aquele livro que nos fará dar um salto enquanto leitores.

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    1. Ah Patrícia e eu que gosto tanto de pôr o dedo na ferida...

      Sim - pelo pouco que conheço de ti, estas metas numéricas e pressão para ler nada têm que ver com a tua postura perante a leitura. Uma das coisas eu mais gozo me dá no teu blogue, é que opinas quando queres e se te apetecer. Porque há outros assuntos - e vida - para além dos livros. E porque a qualidade tem que sempre vir antes da quantidade.
      É verdade que metas numéricas são fáceis de fazer - basta como dizes (e também já tinha ouvido esta expressão da Célia) ler uns livros de digestão mais fácil, uns infantis e GN e tá feito. Voilá - 200 livros num ano. Este ano, só para ser contrária, decidi não pôr desafio no GR, para ver se me influenciaria de alguma maneira. Conclusão: li mais que nos outros anos! Não me influencia nada e li livros complexos, clássicos...enfim, o que me apeteceu, ao meu ritmo, onde estive dias sem ler nada. E não me afetou por aí além. Como criadora de conteúdos, não dependo única e exclusivamente de opiniões - que até faço poucas e só dos livros que realmente me impressionaram. Gosto de falar de tudo um pouco.
      A outra vertente também acontece: múltiplas - para não dizer "paletes" de opiniões que se repetem sobre um mesmo livro, de tal modo que até parece não haver mais livros sobre que opinar. E há tanto titulo a "morrer" à mingua, por aí.
      Para mim, os números de cada um não devem importar, apesar de achar que há livros, como dizes, que necessitam de respirar como um bom vinho. Não é a mesma coisa ler um thriller e ler uma Virginia Woolf. Mas cada um saberá o tempo que precisa para processar o que leu e ir para nova leitura.
      Mas, se estivermos sempre com atenção nos números, dificilmente iremos evoluir enquanto leitores e isso, sim, é uma pena. Os números pelos números, sozinhos, não é nada.

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