quarta-feira, 17 de maio de 2017

Opinião

A Vegetariana

Yeong-hye é uma mulher jovem, totalmente mediana, que vive uma vida mediana, tem um marido mediano e nada de especial se passa. Até ao dia em que ela tem um terrível pesadelo e torna-se vegetariana, de um dia para o outro. O marido dá com ela no dia seguinte, a esvaziar o frigorífico de todo e qualquer alimento de origem animal.
Mas ela não pára aí.
Depois de a forçarem a comer, ela retrai-se cada vez mais para o seu interior, deixando apenas a casca vazia do seu corpo, cada vez a definhar mais.

Este é o mote para um livro surpreendente, bizarro, estranho mas ao mesmo tempo tão compreensível.
A escrita é nua e crua: tudo o que a autora quis passar, fê-lo claramente com as suas 190 páginas, onde todas as palavras têm o seu lugar e a sua função. Não há hipérboles, nem descrições extensas. Tudo direito ao cerne da questão. Gostei imenso de ser confrontada, sem filtros, pela crueza da vida e das circunstâncias.
Nunca temos acesso ao que a protagonista pensa - o livro está dividido em 3 partes, onde são outras pessoas (o marido, o cunhado e a irmã) que contam a história, a partir da altura em que ela se tornou vegetariana e como evolui a sua vida, a partir desse momento. Apenas na parte do marido temos alguns excertos onde ela fala, principalmente dos sonhos que a assolam.

Este livro tem uma forte carga sociológica, pois está totalmente enraizado na sociedade coreana, que, para mim, ainda é um pouco estranha, apesar de ter noção que é altamente patriarcal. E machista. As mulheres são coisas, decoração, força de trabalho, mães, mas nunca são realmente ouvidas - só têm deveres e obrigações e nunca direitos. E penso que foi isso, mais que tudo, que levou Yeong-hye a querer controlar algo: o seu corpo. O que comia e como o tratava. Foi como se a sua mente se revoltasse contra todas as injúrias, humilhações e esquecimentos a que ela estava votada e decidisse que era altura dela ter algo para si, decidido por si.
O que para mim ainda tornou o livro melhor, foi que, partindo deste ponto, podemos ver todas as outras pessoas que foram afetadas, refletirem sobre a sua própria vida, os seus desejos, angústias secretas, luxúria, dever e honra. E no fundo, para onde vão na sua vida, em que direção se encaminham. Yeong-hye foi como que um catalisador para essas reflexões.

Kisses da vossa Geek

2 comentários:

  1. Olá!
    Tenho alguma curiosidade com este livro...ainda estou com algumas reservas.
    Talvez lhe dê uma hipótese.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá
      O livro apesar de pequeno tem alguns murros no estômago - se essa é a tua praia, penso que não te arrependes.
      Beijinhos e boas leituras

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