Opinião
A Vegetariana
Yeong-hye é uma mulher jovem, totalmente mediana, que vive uma vida mediana, tem um marido mediano e nada de especial se passa. Até ao dia em que ela tem um terrível pesadelo e torna-se vegetariana, de um dia para o outro. O marido dá com ela no dia seguinte, a esvaziar o frigorífico de todo e qualquer alimento de origem animal.
Mas ela não pára aí.
Depois de a forçarem a comer, ela retrai-se cada vez mais para o seu interior, deixando apenas a casca vazia do seu corpo, cada vez a definhar mais.
Este é o mote para um livro surpreendente, bizarro, estranho mas ao mesmo tempo tão compreensível.
A escrita é nua e crua: tudo o que a autora quis passar, fê-lo claramente com as suas 190 páginas, onde todas as palavras têm o seu lugar e a sua função. Não há hipérboles, nem descrições extensas. Tudo direito ao cerne da questão. Gostei imenso de ser confrontada, sem filtros, pela crueza da vida e das circunstâncias.
Nunca temos acesso ao que a protagonista pensa - o livro está dividido em 3 partes, onde são outras pessoas (o marido, o cunhado e a irmã) que contam a história, a partir da altura em que ela se tornou vegetariana e como evolui a sua vida, a partir desse momento. Apenas na parte do marido temos alguns excertos onde ela fala, principalmente dos sonhos que a assolam.
Este livro tem uma forte carga sociológica, pois está totalmente enraizado na sociedade coreana, que, para mim, ainda é um pouco estranha, apesar de ter noção que é altamente patriarcal. E machista. As mulheres são coisas, decoração, força de trabalho, mães, mas nunca são realmente ouvidas - só têm deveres e obrigações e nunca direitos. E penso que foi isso, mais que tudo, que levou Yeong-hye a querer controlar algo: o seu corpo. O que comia e como o tratava. Foi como se a sua mente se revoltasse contra todas as injúrias, humilhações e esquecimentos a que ela estava votada e decidisse que era altura dela ter algo para si, decidido por si.
O que para mim ainda tornou o livro melhor, foi que, partindo deste ponto, podemos ver todas as outras pessoas que foram afetadas, refletirem sobre a sua própria vida, os seus desejos, angústias secretas, luxúria, dever e honra. E no fundo, para onde vão na sua vida, em que direção se encaminham. Yeong-hye foi como que um catalisador para essas reflexões.
Kisses da vossa Geek
Kisses da vossa Geek
Olá!
ResponderEliminarTenho alguma curiosidade com este livro...ainda estou com algumas reservas.
Talvez lhe dê uma hipótese.
Beijinhos e boas leituras
Olá
EliminarO livro apesar de pequeno tem alguns murros no estômago - se essa é a tua praia, penso que não te arrependes.
Beijinhos e boas leituras