quarta-feira, 21 de dezembro de 2016




Opinião


O sentido do Fim




"A história não são as mentiras dos vitoriosos - são antes as memórias dos sobreviventes, a maioria dos quais não são nem vitoriosos nem derrotados."


Tony Webster está na sua reforma. Divorciado, com uma rotina estável, com os netos a alegrarem-lhe a existência, com uma boa relação com a ex-mulher e de uma forma geral contente com a sua vida, vê a mesma ser perturbada de um  modo irreversível pela chegada da carta de um solicitador, onde se explica que lhe foi legado em testamento o diário de um amigo de adolescência, Adrian Finn.


Tudo isso vai perturbar a paz de Tony - com foco para assuntos não resolvidos do seu passado. Vai trazer à baila toda uma panóplia de situações que ele passou por cima, sem lidar com elas. A vida meteu-se pelo meio e só agora, com esta herança inesperada, vinda em circunstâncias no mínimo estranhas, é que se lhe vai proporcionar a oportunidade de resolver de vez os assuntos pendentes.


"Pensávamos que estávamos a ser maduros quando estávamos apenas a ser seguros. Nós imaginávamos que estávamos a ser responsáveis, mas estávamos unicamente a ser cobardes. Aquilo que chamávamos de realismo acabou por ser apenas a maneira de evitar os assuntos sem lidar com eles."


Este é um livro introspetivo, onde o tema central são as seguintes reflexões: será que é tarde para mudar? Para perdoar? Será que, em determinadas alturas da nossa vida, simplesmente contentamo-nos com uma versão dos acontecimentos, tentando poupar os nossos sentimentos, de modo a podermos seguir em frente? São todas estas questões que o livro tenta responder.


Como todos nós, o protagonista começa esta jornada cheio de certezas e acaba a ver as suas ideias alteradas e as suas noções de vida a evoluir em novas direções. Sentimentos que pensava não ir sentir e reações inesperadas perante algumas situações, são algumas das emoções que Tony vai ter e que irá lidar com elas ao longo da narrativa.


A escrita de Julian Barnes leva-nos entre a vida presente de Tony e a sua vida passada, nomeadamente entre a adolescência e os primeiros anos de vida adulta dele e do seu grupo de amigos, de uma forma fluída e com transições bem feitas entre as duas linhas temporais.
Vemos também tratados os temas de casamento, solidão, suicídio e adolescência de uma forma muito natural e orgânica.
Gostei de viajar pela vida e pelas dúvidas de Tony e de descobrir interações entre ele e as pessoas importantes da vida dele tão reais, tão palpáveis.

Nota: As citações foram traduzidas livremente por mim, pois li o livro em inglês. Peço desculpa por qualquer eventual erro de tradução.

Kisses da vossa Geek

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